SALTO
O primeiro verso dói
Feito uma alfinetada
E se remoi
O poeta que nada
Alcança
E na e na balustrada
Avança
Como quem se atira ao abismo
E não acha entre a plataforma
E o nada
O concreto do desvão
Do mergulho
E busca na nave
A escotilha aberta
Que o salve.
A VELA A VELAR
Ainda esta acessa a chama.
Lagrima de cera.
Lava vulcânica.
A escorrer pelas encostas da alma.
O calor,
O brilho acesso,
O bailado de fogo
O vento que rege.
A chama a chamar
A vela a velar
Nossos sonhos na noite.
A SETE PALMOS
Nada desse mundo quero levar
Senão o que não puder deixar.
De resto, tudo o mais deixarei
Aos abutre,
Aos ratos
E as serpentes.
Aos abutres, minha carne podre.
Aos ratos, meus dotes.
As serpentes, as picadas abertas
Em todas as amazonias de minha existência
Nada quero, ou melhor
Quero a paz absoluta dos campos-santos,
A placidez lânguida das manhas de outono
E o orvalho filtrado
Pelos sete palmos de meu latifúndio.