Bem vindos ao meu mundo, sombrio e obscuro



Aqui tenho a liberdade de postar tudo que eu aprecio.

"sei exatamente como é querer morrer, como machuca sorrir, como você tenta se encaixar mas não consegue, como você se fere por fora tentando matar o q tem por dentro..."



23 de abr. de 2010

Augusto dos Anjos


  Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos , poeta brasileiro.
  Costumo ler muito Augusto dos Anjos, ele é um dos poucos poetas brasileiros que eu realmente gosto.
  Espero que vocês assim como eu gostem de Augusto dos Anjos, e para aqueles que ainda não leram nenhum de seus poemas aqui esta uma oportunidade unica.
  Espero que vocês apreciem.



ETERNA MÁGOA

O homem por sobre quem caiu a praga

Da tristeza do Mundo, o homem que é triste

Para todos os séculos existe

E nunca mais o seu pesar se apaga!


Não crê em nada, pois, nada há que traga

Consolo á Mágoa, a que só ele assiste.

Quer resistir, e quanto mais resiste

Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.


Sabe que sofre, mas o que não sabe

E que essa mágoa infinda assim, não cabe

Na sua vida, é que essa mágoa infinda


Transpõe a vida do seu corpo inerme;

E quando esse homem se transforma em verme

E essa mágoa que o acompanha ainda!

 
MÁGOAS

Quando nasci, num mês de tantas flores,

Todas murcharam, tristes, langorosas,

Tristes fanaram redolentes rosas,

Morreram todas, todas sem olores.


Mais tarde da existência nos verdores

Da infância nunca tive as venturosas

Alegrias que passam bonançosas,

Oh! Minha infância nunca tive flores!


Volvendo ã quadra azul da mocidade,

Minh'alma levo aflita à Eternidade,

Quando a morte matar meus dissabores.


Cansado de chorar pelas estradas,

Exausto de pisar mágoas pisadas,

Hoje eu carrego a cruz de minhas dores!

 
 
O CAIXÃO FANTASTICO

Célere ia o caixão, e, nele, inclusas,

Cinzas, caixas cranianas, cartilagens

Oriundas, como os sonhos dos selvagens,

De aberratórias abstrações abstrusas!


Nesse caixão iam, talvez as Musas,

Talvez meu Pai! Hoffmânnicas visagens

Enchiam meu encéfalo de imagens

As mais contraditórias e confusas!


A energia monística do Mundo,

À meia-noite, penetrava fundo

No meu fenomenal cérebro cheio...


Era tarde! Fazia multo frio.

Na rua apenas o caixão sombrio

Ia continuando o seu passeio!

 
 
O COVEIRO

Uma tarde de abril suave e pura

Visitava eu somente ao derradeiro

Lar; tinha ido ver a sepultura

De um ente caro, amigo verdadeiro.


Lá encontrei um pálido coveiro

Com a cabeça para o chão pendida;

Eu senti a minh'alma entristecida

E interroguei-o: "Eterno companheiro


Da morte, quem matou-te o coração?"

Ele apontou para uma cruz no chão,

Ali jazia o seu amor primeiro!


Depois, tomando a enxada, gravemente,

Balbuciou, sorrindo tristemente:

- "Ai, foi por isso que me fiz coveiro!"

 
 
O SARCÓFAGO

Senhor da alta hermenêutica do Fado

Perlustro o atrium da Morte... É frio o ambiente

E a chuva corta inexoravelmente

O dorso de um sarcófago molhado!


Ah! Ninguém ouve o soluçante brado

De dor profunda, acérrima e latente,

Que o sarcófago, ereto e imóvel, sente

Em sua própria sombra sepultado!


Dói-lhe (quem sabe?!) essa grandeza horrível,

Que em toda a sua máscara se expande,

À humana comoção impondo-a, inteira...


Dói-lhe, em suma, perante o Incognoscível,

Essa fatalidade de ser grande

Para guardar unicamente poeira!

 
 

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